Olá, aventureiros!
Hoje temos indicação de leitura para quem admira o processo da escrita.

Ofício de escrever
Autor: Frei Betto
Páginas: 176
Editora: Anfiteatro
Onde encontrar: livro físico / e-book
Frei Betto é escritor e frade dominicano. Admiro seu trabalho há anos, inclusive já li diversos livros dele, como Cartas da Prisão.
Acredito que uma das coisas que mais admiro em seus escritos é a profundidade de suas palavras e a essência da espiritualidade presente em tudo o que escreve. Importante ressaltar que o autor escreve sobre atualidades, política, sobre suas experiências de vida (como quando lutou juntamente com outros frades dominicanos contra a ditadura militar e foi levado à prisão neste período), bem como sobre espiritualidade.
Em Ofício de Escrever, Frei Betto reflete sobre o processo de escrita, sobre os sentimentos que o autor sente ao escrever e como busca inspiração, além de muitos outros assuntos referentes ao tema. Para isto, utiliza exemplos próprios e de outros grandes escritores.

Escrever é escavar: memórias, histórias, conjunturas, ideias e perfis. Não basta alinhavar vocábulos. É preciso desbordar a vida, sem meias nem peias.
Frei Betto destaca a importância do escritor retirar-se, ficar a sós – somente ele e seus pensamentos e palavras. Fala também da importância de todo escritor ler os clássicos.
Quem se pretende escritor deve ler muito, em especial os clássicos. Eles souberam inebriar a vida com “a louca da casa”, a imaginação. E precisa viver, deixar o confortável mundinho tecido de convenções medíocres e se jogar, sem medo, nas ondas intempestivas da criatividade.
Este livro foi escrito não somente para quem pensa em ser escritor, mas também para quem busca entender o processo da escrita.
Além de citar diversos autores e suas grandes obras, Frei Betto cita a Bíblia e os livros que a compõem. Interessante como ele reflete os escritos, de uma forma literária, além da espiritual. Ele destaca os múltiplos gêneros literários que a Bíblia é composta, dando ênfase na poesia.
Deus a escolheu para, através dela, se revelar a nós. Escolheu uma escrita, a semítica, e um gênero próximo da ficção, pois em toda a Bíblia não há uma única aula de teologia, um ensaio doutrinário, um texto conceitual. É toda ela uma narrativa pictórica – vê-se o que se lê.
Um destaque especial ao capítulo dedicado a reflexão acerca das obras de Adélia Prado. Ela é uma das escritoras favoritas, pela forma com que escrevia suas poesias, dotadas de espiritualidade e reflexões. Mantendo-se artista, poeta, não deixava de expor seu lado religioso. É aí que o autor compara-a com a minha poeta favorita: Sóror Juana Inés de la Cruz.
A voz poética adeliana recolhe do chão da vida interiorana os cacos dos vitrais de nossas crenças e desejos e emerge como prece e sussurro, sem alçar o voo da metafísica, distando da lírica de Juana Inés de la Cruz e Cecília Meireles.
Para quem ama a escrita e seu processo/desenvolvimento, essa é uma super indicação de leitura.
Por
Kelly Cominoti