Olá, aventureiros!
Vamos conhecer um pouco sobre o livro O Segredo dos Abreviatos, do autor José Beffa, publicado pela Luva Editorial.

1- José, nos conte um pouco sobre a ideia de escrever O Segredo dos Abreviatos. O que te inspirou?
Bem, foi a atrocidade com a vida animal. Eu imaginei a história como um mundo em que a sociedade humana, obcecada com o consumo de carne, perderia sua principal fonte de alimento: os animais. Então, como a indústria capitalista não pode parar, um governo totalitário, comandado pelas principais empresas do mundo, surge. Assim, a humanidade continua seu consumo predatório, mas agora com os próprios humanos: àqueles a quem o capitalismo dispensa e repudia. Os menos abastados, as classes pobres, os presos, todo àqueles que não fazem a roda capitalista girar. Mas eu nunca quis fazer algo explícito demais, nada muito violento. Foi aí que a história de Matheus e Amanda surgiu. O livro, apesar de abordar um assunto tão extremo, não é gore, e a violência, que na sociedade atual os animais sofrem, no mundo dos Abreviatos são os humanos que padecem. A ideia em O Segredo dos Abreviatos é de ser uma aventura empolgante e usar todo esse mundo distópico e terrível como plano de fundo. Mas a violência ainda está lá, apesar de a história ser um Young Adult.
2- O início do livro já surpreende o leitor, pois é impossível não associar com o período que estamos vivendo hoje (pandemia, incertezas sobre o futuro e mudança de hábitos). Como você planejou este cenário na história?
Na verdade, eu não tinha nem ideia que em 2020 viveríamos uma pandemia. A história do livro surgiu na minha mente há cinco anos, em 2015, e eu escrevi a primeira versão do livro em 2016, que foi publicada em 2017 sob o título A Província dos Ursos de Vento e foi minha primeira obra. Depois de um tempo, eu passei a não gostar de como a história foi conduzida, nem como eu a escrevi. Passei por algumas publicações depois desse livro e também cursos de escrita. Por isso, em 2019 surgiu a ideia de reescrever completamente A Província dos Ursos de Vento e relançá-la no ano seguinte, com outro nome. Para isso, tive o prazer de ter novamente comigo o grande ilustrador da capa de Dissidentes: Golpe de Estado, que também assina na capa de O Segredo dos Abreviatos.
3- Seguindo a ideia da pergunta anterior, podemos dizer que O Segredo dos Abreviatos é uma ficção distópica? Que outro gênero literário você classificaria a obra?
Com certeza. Eu colocaria também como uma Pulp Fiction, como os livros do século XX que contavam uma história de ficção científica e eram impressos em papel barato. Tivemos alguns clássicos nesse sentido, como as obras do grande mestre Isaac asimov, quem me inspirei bastante para escrever O Segredo dos Abreviatos. Como eu havia dito, a ideia da obra é contar uma aventura empolgante com conceitos de ficção científica com uma crítica social como plano de fundo.
4- Vamos conversar sobre os personagens: vi Matheus como um herói em meio ao caos. Ele luta, coloca sua vida em risco, para salvar sua esposa e seu filho. Você vê características de “herói” no personagem? Se sim, quais?
Sim, o arquétipo de herói romântico está ali; talvez como um jovem capitão Kirk ou como Flash Gordon das séries de ficção científica da metade do século passado. O Segredo dos Abreviatos foi pensado em ser uma Pulp Fiction, e nada melhor do que colocar no protagonista vários elementos das obras clássicas do gênero. Porém, mais que isso, Matheus é um sobrevivente. Ele mata por necessidade e não hesita em fazer isso se isso significa salvar quem ele ama. É o herói por ocasião, disposto a se sacrificar o tempo todo por aquilo que acredita.
5- Temos em diversos momentos as chamadas jornalísticas, as notícias, que ajudam o leitor a compreender o momento em que se passa a história e o que aconteceu com o lugar. Qual a importância do jornalismo, da informação em uma sociedade como a retratada no livro?
Quando uma nação pende ao totalitarismo, a imprensa é a primeira vítima a ser atacada. As notícias não podem circular em um governo controlador; devem ser suprimidas e divulgar somente o que não prejudique a imagem de quem está no poder. Essa supressão pode vir como a omissão de dados estatísticos das vítimas de uma pandemia, por exemplo. E, quando a mídia, as notícias, passam a ser silenciadas, é sinal de que algo terrível está para acontecer.
6- Sei que é uma pergunta difícil para o escritor, mas qual é seu personagem favorito da obra? Por quê?
É realmente uma pergunta bem difícil. Temos vários arcos na narrativa, alguns menores e outros maiores. Talvez a jornada de Luigi na fábrica de relógios e a busca de Matheus e Amanda pelo Mercado do céu tenham sido os momentos mais interessantes do livro no meu ponto de vista, uma vez que se tratava de uma jornada, como um road movie. Eu gostei de escrever essa parte, a busca, as dificuldades, os momentos em que eles quase estavam chegando ao objetivo para alguma coisa fora de seu controle acontecer e afastá-los dali. Dito isso, dos três personagens principais (Matheus, Amanda e Luigi), sem dúvidas, Matheus foi o mais simples de escrever. Seu objetivo era bem evidente e isso foi fácil para construir o personagem. Já, Amanda, era muito mais pragmática e por muitas vezes duvidava daquele mundo utópico do qual o marido tanto falava. Porém, não lhe restavam muitas alternativas. Então, desenvolvê-la foi mais interessante, já que ela era sempre a personagem que notava os problemas nos planos de Matheus e que, quase sempre, estava certa. Em vários momentos, se Matheus tivesse a ouvido mais, boa parte das enrascadas que se meteram, não teriam acontecido. Já Luigi foi um desafio maior. É particularmente difícil para mim escrever na perspectiva de crianças. Claro que ele é bem mais maduro para sua idade, o que acabou facilitando as coisas, porém, ainda tinha que fazê-lo inocente e, ao mesmo tempo, malicioso para que pudesse superar desafios que acabariam matando vários adultos. No final das contas, é ele quem salva o dia em muitas ocasiões. Bem, acho que já falei demais, mas, se eu fosse escolher um personagem, seria Luigi. Criar seu arco narrativo foi bem interessante, porque, diferente de Matheus e Amanda, ele não tinha um objetivo tão bem definido. Ele só queria escapar da vida que levava até ali e, ao longo da jornada, acabou por fazer amizades que mudaram totalmente sua forma de enxergar o mundo. Então, sua construção foi a mais interessante de se criar.
7- Fale um pouco sobre seu trabalho e as obras que já publicou. Pensa em escrever outras ou dar continuidade ao Segredo dos Abreviatos?
Como eu havia dito, o meu primeiro livro publicado foi A Província dos Ursos de Vento, que acabei por reescrever inteiro com o novo nome; O Segredo dos Abreviatos. Quanto à sua história, sempre imaginei ser um volume único. Uma história que tivesse começo, meio e fim e nenhum cliffhanger ou plot twist nas últimas páginas que implorassem para a continuação. Claro que há plot twists na narrativa, mas todos são desenvolvidos e encerrados ao final do livro. Sim, o mundo que construí em O Segredo dos Abreviatos é bem vasto e poderia ser explorado. Mas minha intenção foi sempre contar a história de Matheus, Amanda e Luigi, e acho que ela acaba ali, na última página do livro. Quem sabe algum dia eu volte para esse universo, mas não tenho planos para isso ainda. Com Dissidentes: Golpe de Estado, meu segundo romance publicado, por outro lado, eu tenho planos para uma trilogia. O primeiro foi publicado em 2018, ano de eleição, e estou preparando o segundo volume para 2022. Sei que é um pouco distante, mas a espera valerá a pena, já que a história da obra tudo tem a ver com os períodos políticos que nosso país vem atravessando.
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POR
Kelly Cominoti