Olá, aventureiros!
Vamos falar sobre uma grande e importante escritora brasileira do século XIX: Francisca Júlia.

Durante uma leitura de um curso sobre literatura que fiz recentemente, conheci a vida e a obra de Francisca Júlia da Silva (1871-1920). E me surpreendi com sua história.
Estou fazendo uma série de posts no meu Instagram sobre autoras brasileiras pouco comentadas. Aproveita para me seguir lá [clique aqui]. E decidi postar lá 5 curiosidades sobre a autora.
Mas aqui falaremos um pouco sobre sua vida e vou aproveitar para indicar 5 poesias dela ❤
- VIDA E OBRA DE FRANCISCA JÚLIA
Francisca Júlia da Silva Münster nasceu em São Paulo, em 31 de agosto de 1971, e faleceu em 1º de novembro de 1920. Francisca Júlia se suicidou no dia do enterro de seu marido.
Tinha um irmão que também era poeta: Júlio César da Silva. Escreveram um livro juntos, chamado Alma Infantil.
Foi poeta e crítica literária. Começou sua carreira de escritora em 1891, escrevendo sonetos para o Estado de São Paulo. Entre 1892 e 1895 escreveu para o Correio Paulistano. Publicou quatro obras: Mármores (1895), O Livro da Infância (1899), Esfinges (1903) e Alma Infantil (1912).

Suas obras se encaixam tanto no Simbolismo quanto no Parnasianismo (adquira o e-book sobre escolas literárias AQUI).
Você pode encontrar o livro mais conhecido de Francisca Júlia no site do Senado (aqui).
- Conheça 5 poesias da autora
OUTRA VIDA
Se o dia de hoje é igual ao dia que me espera
Depois, resta-me, entanto, o consolo incessante
De sentir, sob os pés, a cada passo adiante,
Que se muda o meu chão para o chão de outra esfera.
Eu não me esquivo à dor nem maldigo a severa
Lei que me condenou à tortura constante;
Porque em tudo adivinho a morte a todo instante,
Abro o seio, risonha, à mão que o dilacera.
No ambiente que me envolve há trevas do seu luto;
Na minha solidão a sua voz escuto,
E sinto, contra o meu, o seu hálito frio.
Morte, curta é a jornada e o meu fim está perto!
Feliz, contigo irei, sem olhar o deserto
Que deixo atrás de mim, vago, imenso, vazio…
ADAMAH
(a Júlia Lopes d’Almeida)
Homem, sábio produto, epítome fecundo
Do supremo saber, forma recém-nascida,
Pelos mandos do céu, divinos, impelida,
Para povoar a terra e dominar o mundo;
Homem, filho de Deus, imagem foragida,
Homem, ser inocente, incauto e vagabundo,
Da terrena substância, em que nasceu, oriundo,
Para ser o primeiro a conhecer a vida;
Em teu primeiro dia, olhando a vida em cada
Ser, seguindo com o olhar as barulhentas levas
De pássaros saudando a primeira alvorada,
Que ingênuo medo o teu, quando ao céu calmo elevas
O ingênuo olhar, e vês a terra mergulhada
No primeiro silêncio e nas primeiras trevas…
CARIDADE
A alma do homem se torna egoísta e má
Porque a impiedade de hoje é a sua escola.
Essa, que no Evangelho se acrisola,
Caridade cristã, onde é que está?
Capazes, hoje em dia, poucos há
Dessa piedade rara, que consola,
Que os olhos fecha para dar a esmola,
A fim de que não veja a quem a dá.
Sede piedosos. Bem-aventurado
Os que fazem o bem de olhos fechados.
Pois a esmola é só útil e eficaz,
Só tem justo valor, sem dano ou perda,
Se não chega a saber a mão esquerda
O benefício que a direita faz.
EGITO
No ar pesado, nenhum rumor, o menor grito;
Nem no chão calvo e seco o mais pequeno adorno;
Um velho ibe somente arranca um raro piorno
Que cresce pelos vãos das lájeas de granito.
A aura branda, que vem do deserto infinito,
Arrepia, ao de leve, a água do Nilo, em torno.
Corre o Nilo, a gemer, sob um calor de forno
Que, em ondas, desce do alto e invade todo o Egito.
Destacando na luz, agora o vulto absorto
De um adelo que passa, em caminho da feira,
Dá mais um tom de mágoa ao vasto quadro morto.
Bate na areia o sol. E, num sonho tranqüilo,
Pompeia, ao largo, a alvura uma barca veleira,
A tremer, a tremer sobre as águas do Nilo.
Inverno
Outrora, quanta vida e amor nestas formosas
Ribas! Quão verde e fresca esta planície, quando,
Debatendo-se no ar, os pássaros, em bando,
O ar enchiam de sons e queixas misteriosas!
Tudo era vida e amor. As árvores copiosas
Mexiam-se, de manso, ao resfolego brando
Da brisa que passava em tudo derramando
O perfume sutil dos cravos e das rosas…
Mas veio o inverno; a vida e amor foram-se em breve…
O ar se encheu de rumor e de uivos desolados…
As árvores do campo, enroupadas de neve,
Sob o látego atroz da invernia que corta,
São esqueletos que, de braços levantados,
Vão pedindo socorro à primavera morta.
Conheça outras poesias de Francisca Júlia no site Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/vo000012.pdf
FONTES
- http://antigo.bbm.usp.br/node/89
- https://bndigital.bn.gov.br/dossies/periodicos-literatura/personagens-periodicos-literatura/francisca-julia-da-silva/
POR
Kelly Cominoti